domingo, 24 de junho de 2012

29.Zazen /Mokusō.


Zazen / Mokusō
["Meditação".]

* ATENÇÃO: Assunto destinado aos instrutores de Artes Marciais Japonesas apenas! *

Um grande número de instrutores tem advogado a teoria de que "a prática é mais importante do que a teoria". Portanto, hoje eu vou demonstrar o porquê de esta "teoria" estar absurdamente errada.
Como podem ver acima, existem duas expressões que eu traduzi como "Meditação" (coloquei esta palavra entre colchetes porque não é a tradução literal) e, na vida real, é assim que ambas expressões são vistas pela esmagadora maioria de instrutores de Artes Marciais japonesas.
São vistas da mesma forma porque há uma deficiência de "teoria" (elemento crucial para a fundamentação da "prática"), porque, na verdade, estas expressões são completamente diferentes!
Para comprovar esta diferença, vamos "entender" cada expressão (porque falar sem fundamentar é especular) e depois vamos tecer os comentários e explicações em pormenores.

1. Zazen. 
Esta expressão é composta por dois ideogramas:
Za - "Sentado(a)", "sentar" etc..
Zen - "Meditação Budista".
Assim sendo, Zazen literalmente significa "Meditação Budista sentada".
Reparem na palavra "BUDISTA"!

2. Mokusō.
Esta expressão também é composta por dois ideogramas:
Moku - "Ficar em silêncio", "parar de falar", "silêncio" etc..
Sō - "Pensamento", "ideia", "conceito", etc..
Assim sendo, Mokusō literalmente significa "Pensar em silêncio".

Como já devem ter notado, há uma grande diferença entre "Meditação Budista Sentada" e "Pensar em silêncio"... Enquanto que a primeira encerra a componente RELIGIOSA e implica habilitações religiosas por parte de quem a orienta, a segunda pode ser feita por qualquer pessoa (que é o caso da meditação feita nas Artes Marciais ensinadas no ocidente).

"Mas o assunto acaba aqui?"

Longe disso!

A falta de "teoria" leva um grande número de instrutores não só a confundir "prática religiosa" com "meditação silenciosa cotidiana" como - para piorar a situação - permite-lhes adicionar ainda mais conceitos religiosos sobre os quais não têm qualquer conhecimento... 
O que é o caso - infelizmente - das expressões a seguir:

Mudrā / Inzō

Um grande número de instrutores ao fazer Mokusō adiciona Mudrā à prática da meditação silenciosa, exagerando de forma rudimentar o erro da prática religiosa no contexto desportivo.

"Mas o que é Mudrā?"

Existem vários conceitos documentados que abrangem desde o "conhecimento superficial" até às escrituras sagradas "excessivamente profundas".

O meu entendimento sobre este assunto é mais pragmático (^_^), portanto Mudrā é uma palavra originária do Sânscrito [Índia] (no Japão é conhecida por Inzō) e - para mim - é "uma simbologia esotérica que, através de iconografia gestual, tende a colocar o praticante num determinado estado mental"

Naturalmente, não é "só isso"! Mas para a prática marcial que fazemos todos os dias é um conceito que deveria ser levado em consideração!

Ao assumir a postura "Dhyani Mudrā" - mostrada na figura acima - o instrutor tenta "parecer mais «zen» do que os demais mortais e incita os seus alunos a  atingirem um suposto «Nirvana»" sem que estes mesmos instrutores tenham realmente qualquer conhecimento efetivo sobre o que isso se refere (...porque SE tivessem mesmo a mínima noção do que essa prática implica, jamais fariam tal coisa numa aula de Artes Marciais onde o assunto "religião" não deve ser abordado).

"Mas o meu mestre faz assim!"

Se o seu mestre faz assim, então apenas duas hipóteses são possíveis:
1. Há um ensino religioso efetivo - ministrado por um mestre com "habilitações religiosas"(1) comprovadas - associado à prática marcial. 
2. O referido mestre também não tem conhecimento sobre o que a Mudrā se refere.

De qualquer forma, voltando ao centro da questão, é este conhecimento "teórico" que valida a nossa "prática". "Não misturar alhos com bugalhos" é natural quando realmente "sabemos" o que fazemos. E isso só vem com o estudo, com a pesquisa e, paralelamente, com uma prática continuada.

Portanto, se você é um daqueles instrutores que na instrução de Artes Marciais japonesas adiciona "componentes religiosas", talvez fosse uma boa ideia repensar o que está verdadeiramente a ensinar e se tem honestamente habilitações RELIGIOSAS para tal prática.

Além disso tudo, existe ainda a questão do "correto Mokusō"...(^_^)
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Nota:
(1) Ao falar de "habilitações religiosas" não me refiro às "habilitações Marciais".

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